Acabou
a Jornada Mundial da Juventude e confesso que o evento casou um grande impacto,
tanto em católicos quanto em evangélicos, muitos dizendo: “Olha esse Papa! É um
fofo”. Consequentemente, muito desse evento se deve ao rosto de Francisco, que
consegue transmitir: simplicidade, carisma e um novo fôlego ao movimento
católico que no Brasil estava mal das pernas.
A
questão é que Francisco tocou no ponto nevrálgico de toda teologia, este pouco
foi tocado pelos meios de comunicação, e talvez, pudesse ter sido retirado de
todo o seu discurso: a questão do dinheiro. Francisco começa a mostrar que não
é tão “fofo” dizendo: “O mundo atual que vivemos, tinha caído em uma feroz
idolatria do dinheiro (...) Quem manda hoje é o dinheiro”. Francisco continua
dizendo: “Existe uma política mundial, mundial, impregnada pelo protagonismo do
dinheiro (...). Sem qualquer controle ético, um economicismo autossuficiente, e
que vai arrumando grupos sociais de acordo com essa conveniência. O que
acontece? (...) Se concentra muito no centro, enquanto nas pontas da sociedade,
as pessoas são mal atendidas, não são cuidados e são descartados. Até agora
vimos como se descartam os idosos, há toda uma filosofia para descartar os
idosos... Não servem, Não produzem. Os jovens também não produzem muito (...)
Nós encontramos um fenômeno na Europa de Jovens descartáveis. Então para
sustentar esse modelo de politica mundial, descartamos os extremos. (...) Hoje,
há crianças que não têm o que comer. Crianças que morrem de fome, de
desnutrição, basta ver algumas fotografias de alguns lugares do mundo. Há
doentes que não têm acesso a tratamento. Há homens e mulher mendigando nas ruas
que morrem de frio no inverno. Há crianças que não têm educação. NADA DISSO É
NOTÍCIA” (grifos meus).
Francisco
deixou claro que, em breve, o perfil da igreja católica mudará, aposto que isso
acontecerá entre cinco a vinte anos, e essa mudança de paradigma trará impactos
profundos no meio evangélico, principalmente brasileiro.
Minha
impressão é que temos dois pólos bem distintos hoje. De um lado, um setor da
teologia que ficou preso na idade média discutindo quem está com a razão,
Calvino ou Armínio, que nunca chegará à conclusão. Então enquanto um e outro se
mandam mutuamente para o inferno, o setor da teologia da prosperidade cresce e
traz diversos problemas teológicos, que muitos pastores e lideres não conseguem
solucionar.
Vamos
chegar à conclusão, em cinco ou vinte anos, que nos atrasamos gravemente em
relação ao catolicismo. Pois não estamos discutindo seriamente sobre a
perspectiva da impossibilidade de se viver religiosa-espiritualmente, enquanto
há fome, desespero, desesperança e sofrimento. Aliás, essa vida religiosa-espiritual,
se quer ser vivida na integra, deve sim, projetar-se em direção aos sofridos, abandonados
em suas próprias mazelas, em nosso descaso, frutos da política econômica
capitalista, que faz com que o ser humano se desumanize e se torne cada vez
mais descartável, em detrimento do capital.
A
teologia de Francisco é simples, é notória, só não vê quem não quer: cuidar do
ser humano, do pobre, do sofrido, de suas mazelas. Uma teologia da práxis. Mas
enquanto as discussões teológicas evangélicas forem rasas, como as citadas no
texto, minguaremos. Minguaremos, pois só cuidamos do próximo para
catequizá-los, para ensinar a discutir sobre Calvino e Armínio, ou para
aprender uma meia dúzia de versículos como encantamento para prosperar!
Francisco
denuncia, mesmo sem ter sido essa sua intenção, que o nosso discurso está muito
longe da nossa prática e quer, ao contrário disso, aproximar a Igreja Católica
da prática, do povo, afastando do clero, por sua simplicidade e carisma.
Isso
nos mostra que muitos carecem de uma prática libertária, porque continuam
sofrendo, sendo espoliados, sem educação, saúde, saneamento básico. E nós
evangélicos continuamos omissos, pois seguimos discutindo teorias sem sentido
em si mesmas, procurando libertar a alma do pecado alheio, enquanto o corpo
sofre com os pecados sociais, muitas vezes causados por nós mesmos e por nossa
omissão.
Excelente meu nobre. De fato o Papa Francisco foi brilhante e um recado interessante.
ResponderExcluirAdmirável, Jorge André! Isso mostra não somente a tua visão, mas também a tua humildade em reconhecer algumas falhas na religião que você professa. Aliás, todas têm..... mas essa humildade em enxergar sem hipocrisia, aliada a ações de melhorias dos pontos negativos é que fará, qualquer religião que seja, ser verdadeiramente de Fé, Amor e Caridade.
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