sábado, 25 de fevereiro de 2012

Voto feminino, feminismos, pastoras.

Por um lapso, eu perdi o dia...  no dia 24/02 completaram-se 80 anos de voto feminino no Brasil, mas vale postar sobre isso mesmo que seja hoje. É um dia importante pra lembrar o quanto a desigualdade está na nossa cara e o quanto nos recusamos a ver.
Querendo ler um pouco sobre o assunto recomendo aqui: 80 anos do voto feminino no Brasil . Eu achei o texto bem informativo, e tem uns links pra Wikipédia e para outro. E esse aqui: 80 anos do direito de voto feminino no Brasil, por José Eustáquio Diniz Alves, foi fonte do primeiro.

Eu hoje sou engenheira eletricista e teóloga. Ser mulher em profissão dominada por homem de vez em quando (nem tão de vez em quando assim, pra falar a verdade) é (bem) complicado...
Não muito tempo atrás, uma colega engenheira compartilhava comigo a situação que ela passou. Um cliente da empresa onde trabalhava fez um reclamação de mal funcionamento, a equipe informou que mandaria alguém da área da engenharia pra tratar da parte técnica e que um auxiliar da área administrativa iria também pra tratar da parte burocrática. A minha amiga (que é linda, alta, loira, magra... e inteligentíssima) foi designada para o serviço técnico,. Chegando lá ela informou que veio tratar do mal funcionamento e foi encaminhada à gerência, o cara vira e fala para ela: "Sente aí, para tomar um café e depois conversamos sobre a papelada.Você é a secretária que veio trazer os documentos, né?" A pergunta veio diante da cara de dúvida da minha amiga quanto aos papéis, porque à princípio ele tinha certeza que ela era a secretária. Minha dúvida sempre é esta: por que é tão difícil acreditar que uma mulher pode exercer da mesma forma que um homem uma profissão que não demanda força física?  Comigo aconteciam situações parecidas, no entanto, mais leves, afinal eu não tenho cara de modelo. Mas sempre vejo uma cara de surpresa quando menciono qualquer uma das minhas duas formações. Acho que ninguém me disse antes que mulher não podia mexer com essas coisas... ;-D
Lembro que como horrível ouvir uma vez que era ruim pra empresa contratar mulheres, porque elas engravidam, daí tem que tirar licença maternidade e emenda as férias, o rendimento delas cai durante a gravidez e os primeiros meses depois do retorno da licença, esse conjunto dá prejuízo. É tosco o que vou escrever agora, mas acho que preciso escrever... O ser humano responsável falou assim: "Meninas, dar é legal, todo mundo gosta, vocês podem transar, mas usem camisinha, não engravidem, senão vocês vão engordar, têm que sair de licença, cuidar de bebê chorando..." Na hora eu pensei: Como assim???? Quem é essa pessoa que acha que pode falar dessa forma com os outros e determinar como as pessoas devem manter suas relações sexuais e se podem ou não ter filhos?
Friamente falando, as contas não estão erradas, dá prejuízo mesmo, mas eu fico pensando que mentalidade capitalista é essa que desconsidera a própria humanidade. Também por isso é que, até hoje, o salário feminino é menor, para compensar o potencial prejuízo. As mulheres precisam trabalhar, podem trabalhar assim como os homens e contratá-las tem que ser feito com consciência das limitações e assumindo isso como ônus de ser humano, não pode ser descontado no salário e nem feita nenhuma forma de coação... Respeito às mulheres e seu trabalho é respeito à humanidade e consideração com a perpetuação da espécie. Se a mentalidade não consegue alcançar isso por si própria, acho que o Estado devia dar um jeito.
Discutindo sobre os problemas de gênero em uma sala de aula de nível superior no Rio de Janeiro, menciono esse tipo de situação, afirmando que até hoje as mulheres são oprimidas no trabalho e tenho que ouvir: "Mas você não tem perfil de minoria, não é negra, nem índio, nem pobre, teve educação, tem condições de ter um bom emprego..." Bom, eu continuo me achando parte de uma minoria, na verdade uma maioria que não tem representação no poder.
No fim desta semana, vou ao concílio e (tomara) à ordenação de uma amiga, vai ser pastora batista. A única mulher da minha turma de teologia, até agora, que vai ser consagrada ao ministério pastoral (orgulho alheio!!!!). Aqui em Brasília, não tenho notícia de uma pastora batista, conversava sobre isso hoje com o antigo pastor da igreja que sou membro. As coisas são mesmo muito lentas...
Estou aqui escrevendo tanta coisa, mas meu negócio mesmo é texto bíblico. Ao falar de texto bíblico vale sempre à pena fazer releituras de pontos de vista diferentes. Felizmente pra mim, há um grupo considerável de teólogas e exegetas feministas a quem posso me juntar... Aqui em baixo um texto bíblico. Sem grandes arroubos exegéticos, mas só porque gosto dele. Ele parece meio fora do padrão. Especialmente porque, nele, Deus se manifesta (duas vezes) a uma mulher (só meio fora pois ela é anônima e subordinada a um homem, esse sim tem nome) e é ela quem raciocina contra o medo da morte por terem visto a Deus.

Juízes 13:2-24  (AFC) E havia um homem de Zorá, da tribo de Dã, cujo nome era Manoá; e sua mulher, sendo estéril, não tinha filhos.  3 E o anjo do SENHOR apareceu a esta mulher, e disse-lhe: Eis que agora és estéril, e nunca tens concebido; porém conceberás, e terás um filho.  4 Agora, pois, guarda-te de beber vinho, ou bebida forte, ou comer coisa imunda.  5 Porque eis que tu conceberás e terás um filho sobre cuja cabeça não passará navalha; porquanto o menino será nazireu de Deus desde o ventre; e ele começará a livrar a Israel da mão dos filisteus.  6 Então a mulher entrou, e falou a seu marido, dizendo: Um homem de Deus veio a mim, cuja aparência era semelhante de um anjo de Deus, terribilíssima; e não lhe perguntei donde era, nem ele me disse o seu nome.  7 Porém disse-me: Eis que tu conceberás e terás um filho; agora pois, não bebas vinho, nem bebida forte, e não comas coisa imunda; porque o menino será nazireu de Deus, desde o ventre até ao dia da sua morte.  8 Então Manoá orou ao SENHOR, e disse: Ah! Senhor meu, rogo-te que o homem de Deus, que enviaste, ainda venha para nós outra vez e nos ensine o que devemos fazer ao menino que há de nascer.  9 E Deus ouviu a voz de Manoá; e o anjo de Deus veio outra vez à mulher, e ela estava no campo, porém não estava com ela seu marido Manoá.  10 Apressou-se, pois, a mulher, e correu, e noticiou-o a seu marido, e disse-lhe: Eis que aquele homem que veio a mim o outro dia me apareceu.  11 Então Manoá levantou-se, e seguiu a sua mulher, e foi àquele homem, e disse-lhe: És tu aquele homem que falou a esta mulher? E disse: Eu sou.  12 Então disse Manoá: Cumpram-se as tuas palavras; mas qual será o modo de viver e o serviço do menino?  13 E disse o anjo do SENHOR a Manoá: De tudo quanto eu disse à mulher guardará ela.  14 De tudo quanto procede da videira não comerá, nem vinho nem bebida forte beberá, nem coisa imunda comerá; tudo quanto lhe tenho ordenado guardará.  15 Então Manoá disse ao anjo do SENHOR: Ora deixa que te detenhamos, e te preparemos um cabrito.  16 Porém o anjo do SENHOR disse a Manoá: Ainda que me detenhas, não comerei de teu pão; e se fizeres holocausto o oferecerás ao SENHOR. Porque não sabia Manoá que era o anjo do SENHOR.  17 E disse Manoá ao anjo do SENHOR: Qual é o teu nome, para que, quando se cumprir a tua palavra, te honremos?  18 E o anjo do SENHOR lhe disse: Por que perguntas assim pelo meu nome, visto que é maravilhoso?  19 Então Manoá tomou um cabrito e uma oferta de alimentos, e os ofereceu sobre uma penha ao SENHOR: e houve-se o anjo maravilhosamente, observando-o Manoá e sua mulher.  20 E sucedeu que, subindo a chama do altar para o céu, o anjo do SENHOR subiu na chama do altar; o que vendo Manoá e sua mulher, caíram em terra sobre seus rostos.  21 E nunca mais apareceu o anjo do SENHOR a Manoá, nem a sua mulher; então compreendeu Manoá que era o anjo do SENHOR.  22 E disse Manoá à sua mulher: Certamente morreremos, porquanto temos visto a Deus.  23 Porém sua mulher lhe disse: Se o SENHOR nos quisesse matar, não aceitaria da nossa mão o holocausto e a oferta de alimentos, nem nos mostraria tudo isto, nem nos deixaria ouvir tais coisas neste tempo.  24 Depois teve esta mulher um filho, a quem pôs o nome de Sansão; e o menino cresceu, e o SENHOR o abençoou.



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